🌞 O Ponto Zero de Áries e o Mistério das Primaveras
(Ponto Polêmico n.º 1 da Astrologia)
Questão
Se o ponto zero de Áries corresponde ao início da Primavera no Hemisfério Norte,
por que não considerá-lo, no Hemisfério Sul, quando aqui também se inicia a Primavera — em 22 ou 23 de setembro?
O Enigma do Começo
O ponto zero de Áries é tradicionalmente associado ao início da Primavera no Hemisfério Norte.
Mas — e se olhássemos o céu desde o Sul, com os pés na Terra austral e o coração apontando para o Cruzeiro do Sul?
Por que não vincular o nascimento do zodíaco à Primavera do Sul, quando a natureza também desperta, as flores se abrem e a vida renasce?
No equinócio de primavera para o Norte, o Sol atravessa o plano do Equador Celeste, movendo-se do Hemisfério Sul para o Norte.
Esse parece ter sido o motivo que levou os antigos astrólogos do Norte a tomarem a projeção do Sol neste momento como o ponto zero de Áries — a origem do zodíaco tropical, o zodíaco solar.
A Justificação de Ptolomeu
O próprio Ptolomeu, primeiro a formalizar o zodíaco tropical em seu Tetrabiblos, afirma que o critério para escolher Áries como o início do Zodíaco é o fato de, no equinócio vernal (para o Norte), iniciar-se a estação que traz em si a força do nascimento:
“Por esta razão, embora não haja um início natural do zodíaco, sendo ele um círculo, assume-se que o signo que começa com o equinócio vernal, ou seja, o de Áries, seja o ponto inicial de todos, tornando a umidade excessiva da primavera a primeira parte do zodíaco, como se ele fosse uma criatura vivente, e tomando por ordem em seguida as estações remanescentes, porque em todas as criaturas, as idades mais jovens, como a primavera, têm uma maior quantidade de umidade e são mais tenras e ainda delicadas.”
— Ptolomeu, Tetrabiblos
Quando o Sol entra em Áries, a eclíptica cruza o Equador Celeste indo do Sul para o Norte.
A cada dia a duração do tempo solar acima do horizonte aumenta, marcando o início da Primavera — o reino das flores, dos passarinhos, das borboletas, dos insetos e dos namoros.
A Primavera do Sul e a Questão Simbólica
Mas a mesma beleza acontece no Hemisfério Sul, em 22 ou 23 de setembro, quando aqui também se inicia a Primavera.
Por que não tomar então esse momento como o verdadeiro ponto zero de Áries?
Se a condição que define Áries é o equinócio e a Primavera, o signo poderia, logicamente, começar tanto em 20 de março quanto em 22 de setembro.
O ponto zero de Áries não poderia, então, ser definido pela projeção do Sol no momento do equinócio de Primavera austral?
A prática astrológica, no entanto, mostra que o zero de Áries corresponde à Primavera no Norte, e é nessa relação que as interpretações simbólicas e psicológicas dos signos se sustentam.
Áries é o fogo cardinal, o impulso do início, a semente que rompe o solo — uma energia que pode se manifestar, no Norte, como expansão e ímpeto, e no Sul, como coragem interior, decisão contida, força de maturação.
Se tentássemos inverter o ponto de partida e tomar o início da Primavera austral como início de Áries, as interpretações dos mapas natais deixariam de corresponder à realidade psicológica observável.
O Mistério Cósmico: o Sol e o Centro da Galáxia
A explicação simbólica mais profunda é que o Hemisfério Norte e o Hemisfério Sul não ocupam a mesma posição energética em relação ao todo cósmico.
O Norte está voltado para a direção do centro galáctico, enquanto o Sul se abre para o espaço extragaláctico, o infinito.
Essa diferença de orientação torna compreensível que o zodíaco tenha sido ancorado na perspectiva do Norte, sem deixar de ser válido no Sul — apenas espelhado em seus modos de expressão.
Duas Respirações do Cosmos
Os dois equinócios são como duas respirações do Universo:
🌤 Em Áries (20 de março): o Cosmos expira, projetando a luz para fora, abrindo o ciclo da manifestação.
🌙 Em Libra (22 de setembro): o Cosmos inspira, recolhendo a experiência à sua fonte interior.
O ponto zero de Áries, assim, não é apenas uma referência astronômica, mas um símbolo da expansão da consciência, da emanatio primordial.
Enquanto Áries representa o nascimento do Eu e o despertar da individualidade, Libra indica o retorno à harmonia cósmica, a dissolução do Eu no Todo.
Ptolomeu e o Equívoco das Estações
Ainda que Ptolomeu — e grande parte dos astrólogos posteriores — tenha associado o início de Áries à Primavera e ao despertar da vida no Hemisfério Norte, a experiência astrológica no Hemisfério Sul revela que essa associação não é a causa, e sim uma coincidência simbólica.
A correspondência entre Áries e a Primavera é válida para quem nasce no Norte, onde o signo coincide com a estação da expansão; porém, no Sul, Áries desponta junto ao Outono e mantém seu caráter iniciador — apenas transmutado: mais interiorizado, contido e responsável, voltado ao recolhimento consciente e à ação madura.
Assim, Ptolomeu e os astrólogos do Norte acertaram na intuição de Áries como o princípio do ciclo, mas erraram na causa que o fundamenta.
O significado dos signos não nasce da sucessão das estações, mas da assimetria viva entre os hemisférios, reflexo das duas faces complementares do mesmo gesto cósmico — o impulso solar que se expande no Norte e se concentra no Sul, como a alternância entre inspiração e expiração na respiração do próprio Universo.
Síntese Final
Dessa perspectiva simbólica, o fato de que em 20 de março o Sol passa do Hemisfério Sul para o Norte, movendo-se em direção oposta ao centro da galáxia, é profundamente significativo.
No equinócio de setembro, ao contrário, o Sol retorna do Norte para o Sul, aproximando-se simbolicamente do coração galáctico, como um movimento de retorno à fonte.
Assim, o primeiro equinócio marca o impulso de exteriorização e conquista — Áries como “a saída do seio do Todo rumo à individuação”;
e o segundo representa o gesto de recolhimento e reintegração — Libra como “o retorno à harmonia universal”.
Essa alternância direcional — uma voltada à expansão, outra à interiorização — sustenta a coerência simbólica do zodíaco tropical, mesmo com as estações invertidas entre os hemisférios.
Conclusão
Talvez o ponto zero de Áries tenha sido fixado no equinócio de março não apenas por convenção cultural do Norte,
mas porque nesse instante o Sol se move para fora do centro galáctico, abrindo o ciclo da exteriorização da luz e da experiência — o grande gesto criador do Espírito na matéria.
O zodíaco tropical, portanto, reflete uma ordem galáctico-simbólica,
em que a jornada do Sol expressa a própria respiração da consciência universal:
do centro à periferia (Áries), e da periferia ao centro (Libra).
Paulo Roberto, o astrólogo que usa 22 de setembro como inicio de Áries
Muitos astrólogos ao fazerem a leitura de um signo, incluem o outro signo como sombra e espelho, de tal forma que um signo se encontra dentro de seu complementar oposto, e segundo o planeta ou a situação se expressa o signo ou seu complementar.
Gostaria de compartilhar que ainda que reconheço a validade desta questão, tenho comprovado na prática do estudo de milhares de mapas, que o zero de Áries corresponde ao Sol em 20 de março.
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